A inutilidade do termômetro no controle da Covid

Segundo especialistas, medir temperatura não é um método eficaz contra a transmissão do coronavírus

Nas entradas de shoppings, mercados e lojas há quase sempre uma pessoa para aferir nossa temperatura. Mas essa medida é eficaz para controlar a disseminação do coronavírus?

No início da pandemia da COVID-19, o consenso era de que aferir a temperatura pudesse contribuir com a segurança do local, evitando que pessoas com febre e, possivelmente, infectadas entrassem, hoje não é mais assim. Depois de muitos estudos, sabe-se que nem metade dos contaminados têm febre. Por outro lado, o uso de máscaras e distanciamento social, como controlar a quantidade de pessoas em um mesmo espaço, continuam sendo fundamentais para evitar a transmissão do vírus.

A aferição da temperatura é ineficaz contra a transmissão da COVID-19, segundo especialistas e entidades reguladoras. Mesmo quem está com a COVID-19 e apresente febre pode burlar o sistema de aferição de temperatura, caso queira agir de forma irresponsável. Segundo a infectologista da Universidade de Campinas (Unicamp), Raquel Stucchi, a medida “é inútil por dois motivos: já sabemos que pelo menos metade das pessoas com COVID-19 não tem febre — mas ainda transmite — e, se a pessoa for mal-intencionada, ela toma um antitérmico e vai passear”.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e nem a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam a aferição de temperatura como método para detectar potenciais pessoas infectadas pelo coronavírus. “O implemento de medidas térmicas, seja em pontos de entrada (portos, aeroportos e fronteiras), seja nas cidades/municípios é uma medida inócua, em especial se considerarmos a situação epidemiológica atual e a sobrecarga dos sistemas locais de saúde”, destacou a Anvisa, em nota.

“Os scanners térmicos são eficazes na detecção de pessoas com febre (ou seja, com temperatura corporal acima do normal), porém, não detectam se a pessoa está infectada com a COVID-19. Existem muitas causas para a febre”, afirmou a OMS através da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em nota.

Além do mais, inúmeros estabelecimentos ainda insistem em aferir temperatura pelo pulso. Pedro Henrique Abreu, Gerente de Marketing e Produtos da G-Tech, fabricante de produtos médicos, explica que temperatura com termômetros infravermelhos se mede onde os manuais indicam. E os manuais desses aparelhos são categóricos ao instruir que eles devem ser direcionados para o centro da testa do paciente (alguns, inclusive, requerem rastreio até as têmporas). Logo, se o termômetro for utilizado em local diferente, pode haver variação entre o resultado apresentado e a real temperatura corporal.

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