Brasil se Abstém de Comunicado do Mercosul sobre Venezuela

O governo do Brasil decidiu se abster de assinar um comunicado do Mercosul que reivindicava a “restauração da democracia” na Venezuela, após uma série de negociações tensas entre os países signatários. A avaliação da embaixada brasileira no Mercosul foi de que o texto ignorava a presença militar estrangeira no Caribe e poderia ser interpretado como uma abertura às ações dos Estados Unidos na região.

A iniciativa do documento partiu do presidente da Argentina, Javier Milei, durante a cúpula do Mercosul realizada em Foz do Iguaçu, no Paraná. A Argentina, o Paraguai e os demais integrantes do Mercosul apoiaram o texto, enquanto o Brasil e o Uruguai se abstiveram de assiná-lo. Segundo diplomatas brasileiros, o tema Venezuela vinha sendo negociado há semanas, e o Brasil aceitava abordar violações de direitos humanos e a crise humanitária sob o governo de Nicolás Maduro, embora defendesse uma posição mais equilibrada do bloco.

Para o Itamaraty, esse equilíbrio exigia a inclusão de um alerta sobre a presença de forças militares internacionais no Caribe, considerada uma ameaça direta à soberania regional e à estabilidade da América do Sul. Os demais países rejeitaram o trecho, e diante do impasse, o Brasil deixou a mesa de negociação e não aderiu ao texto final. O Uruguai tomou a mesma decisão.

Um diplomata que acompanhou as tratativas afirmou que o Brasil já conhecia a iniciativa argentina, mas lamentou o desfecho. “Sabíamos que eles fariam o documento. É um direito deles. Como o Brasil já havia tornado pública sua posição, os demais países não consultaram o governo brasileiro sobre a linguagem do texto. Lamentamos que não houve o tradicional comunicado do Mercosul Estados Partes e Associados”, disse o diplomata.

Até o momento, o Ministério das Relações Exteriores não se pronunciou oficialmente sobre o episódio. O comunicado do Mercosul, que reuniu as assinaturas dos presidentes da Argentina, do Paraguai e do Panamá, entre outros, manifestou “profunda preocupação” com a crise migratória, humanitária e social na Venezuela, país que segue suspenso do Mercosul. O texto afirma que os líderes reafirmaram o compromisso de promover, por meios pacíficos, a plena restauração da ordem democrática e o respeito irrestrito aos direitos humanos no território venezuelano.

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