Em três meses, os olhos do mundo estarão voltados para Belém, na capital paraense. A cidade se preparará para receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, que marca pela primeira vez a realização do evento na região amazônica, lar da maior floresta tropical do planeta. Líderes mundiais, autoridades, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil se reunirão para discutir ações eficazes na luta contra a crise climática global.
Ana Toni, diretora executiva da COP30 e secretária nacional de mudanças climáticas, ligada ao Ministério do Meio Ambiente, destaca quatro grandes temas a serem abordados durante a conferência. “O primeiro é como lidar com a adaptação a um clima que já se modificou. Temos visto mais secas, mais enchentes e mais incêndios. É necessário aprender a viver com essas mudanças, e essa adaptação será um ponto central de debate na COP 30.”
“O segundo tema é a necessidade de preservar a natureza, como oceanos e florestas, além de investir em tecnologias como carros elétricos e painéis solares”, afirma Ana Toni. “Muitas vezes, esquecemos que a preservação ambiental é fundamental para combater as mudanças climáticas.”
“O terceiro ponto essencial é a transformação da economia”, continua a diretora executiva. “O modelo econômico atual precisa incorporar as preocupações climáticas para promover um desenvolvimento sustentável.” Por fim, ela destaca a necessidade de combater as causas das mudanças climáticas, como a poluição e os gases de efeito estufa provenientes de combustíveis fósseis e dos transportes.
Em entrevista à Voz do Brasil, Ana Toni ressaltou que as negociações sobre mudanças climáticas já ocorrem há dez anos, desde o acordo de Paris. Ela espera que a COP 30 marque o início da implementação das ações acordadas, com a participação do setor privado, governos subnacionais e demais stakeholders.
“A COP 30 será um marco para a implementação de medidas concretas como o fim do desmatamento, o triplo da energia renovável, a duplicação da eficiência energética e a transição para energias limpas”, explica Ana Toni.
Em conjunto com a COP 30, terá lugar a Cúpula dos Povos, um espaço de mobilização e articulação do campo popular mundial. Ayala Ferreira, da Coordenação Nacional do MST, define a Cúpula como um espaço autônomo e diverso, representando diferentes realidades e territórios, buscando convergência em torno da crise ambiental e das mudanças climáticas.
Ayala Ferreira reforça a importância da mobilização popular para pressionar os governos e organismos internacionais a ouvir e atender às demandas das comunidades afetadas pelo modelo capitalista que impulsiona a crise ambiental.
Mais de 800 organizações trabalham na construção da Cúpula dos Povos, que busca soluções para a crise climática, como a reafirmação dos territórios, a democratização do acesso à terra, a demarcação e reconhecimento de terras indígenas e quilombolas.
A expectativa é que a Cúpula dos Povos reúna entre 10 e 15 mil pessoas, juntando-se aos participantes da COP 30. A capital paraense se prepara para receber um grande número de visitantes em um curto espaço de tempo, o que exige ações coordenadas pelo governo federal, com apoio do estado e prefeitura.
Elizabeth Grunwald, presidente da Associação Comercial do Pará, destaca que a preparação do megaevento inclui um programa de capacitação que já certificou mais de 20 mil pessoas em áreas como turismo, gastronomia, infraestrutura, segurança e línguas.
A barreira linguística é um dos principais desafios, segundo Elizabeth. É fundamental que os equipamentos de turismo tenham seus cardápios e identificações bilíngues, e que haja a disponibilidade de tradutores para facilitar a comunicação.
Elizabeth Grunwald também descreve as ações para garantir a mobilidade urbana, a gestão de estoque, a gestão de resíduos e a garantia dos suprimentos. O objetivo é atender às necessidades de todos os visitantes e minimizar o impacto ambiental da cidade.
A COP30 acontecerá entre os dias 10 e 21 de novembro, com a abertura da Cúpula de Líderes, que reunirá chefes de Estado e de governo nos dias 6 e 7 de novembro.