Nos Estados Unidos a cidade Las Vegas, conhecida como a “Capital do Entretenimento Adulto”, é o símbolo do excesso e da promessa de felicidade instantânea. Sob os neons que iluminam cassinos monumentais, shows grandiosos e festas intermináveis, esconde-se um submundo de vícios que envolve drogas, álcool, jogos e prostituição, com impactos diretos na saúde mental e na dignidade humana.
O consumo de drogas é um dos pontos mais sensíveis. Desde 2017, o uso recreativo da maconha é legalizado em Nevada, mas seu consumo em locais públicos continua proibido. Isso não impede que a cidade seja um polo de experiências químicas variadas, onde cocaína, ecstasy e outras substâncias circulam em festas privadas e eventos clandestinos. Paralelamente, o álcool é onipresente: ao contrário de outras cidades americanas, em Las Vegas é permitido beber nas ruas da Strip, e dentro dos cassinos as bebidas são oferecidas gratuitamente para manter os jogadores à mesa. O resultado é um ambiente que estimula o abuso e transforma euforia em dependência.
O jogo, motor econômico da cidade e responsável por bilhões de dólares anuais, é também o maior catalisador de tragédias. A arquitetura dos cassinos é planejada para manipular o jogador: não existem janelas ou relógios, e o colorido das luzes somado a sons estrategicamente elaborados criam uma sensação de euforia ininterrupta. Idosos deixam suas aposentadorias nas máquinas de caça-níqueis, embalados por coquetéis que reforçam a ilusão de felicidade. Muitos jogadores chegam acreditando na possibilidade de ganhos fáceis, mas saem de lá falidos. Não por acaso, a taxa de suicídio em Las Vegas é quase três vezes maior que a média dos Estados Unidos. Funcionários de cassinos e hotéis recebem treinamentos específicos para lidar com tentativas de suicídio, tamanha é a recorrência desse drama.
O QUE ACONTECE EM LAS VEGAS PERMANECE EM VEGAS!
A prostituição, embora seja legal em alguns condados de Nevada, é proibida em Las Vegas. Ainda assim, a cidade abriga uma rede robusta de exploração sexual, que vai de acompanhantes de luxo a operações clandestinas. A contradição entre a lei e a prática reflete não só os dilemas sociais e morais, mas também a força econômica desse mercado.
Essa realidade, à primeira vista distante, tem muito a ver com o Brasil. Hoje, nossas redes sociais são invadidas por propagandas que vendem a ideia de enriquecimento rápido por meio de jogos online. Influenciadores digitais ostentam mansões, carros de luxo e viagens, afirmando que tudo vem das apostas. O que não revelam é que recebem comissão sobre as perdas dos seguidores — em alguns casos, até 50% de tudo que alguém perde. O ciclo de destruição se repete: curiosidade que vira vício, dívidas no cartão de crédito, no cheque especial e no consignado, perda de patrimônio, emprego, família e, por fim, da própria dignidade. Muitos recorrem a agiotas e passam a viver sob ameaças, mergulhados no desespero.
O Setembro Amarelo nos lembra que a prevenção ao suicídio vai além do cuidado individual com a saúde mental. É necessário observar os ambientes e práticas que empurram pessoas para o limite. O caso de Las Vegas é uma metáfora clara: uma miragem de felicidade no deserto que seduz, consome e destrói. No Brasil, essa miragem aparece em telas de celular, em aplicativos e propagandas que vendem prazer e sucesso fáceis, mas entregam ruína e sofrimento. Discutir drogas, álcool, prostituição e jogos em setembro não é moralismo, mas reconhecer fatores que podem levar indivíduos ao desespero. Se queremos realmente prevenir o suicídio, precisamos enfrentar não apenas as consequências, mas também os ambientes que alimentam a dor. Afinal, por trás do brilho das luzes, há sempre sombras que precisam ser expostas.
Sandra Campos é empresária e ativista pró-vida. Instagram @sandracamposaaa