Órgano do pianista Francisco Tenório Cerqueira Júnior identificado em vala comum na Argentina

O mistério que envolvia o desaparecimento do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior, há quase meio século, finalmente encontrou uma resposta. Seu corpo foi identificado em uma vala comum na periferia de Buenos Aires, capital argentina, segundo a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

Em 18 de março de 1976, Tenório, acompanhado de artistas renomados como Toquinho e Vinícius de Moraes, estava em turnê pela América do Sul. Seu desaparecimento ocorreu após deixar o Hotel Normandie, na Avenida Corrientes, região central da cidade. Em um bilhete deixado para Vinícius, o pianista relatava que saía para comprar um sanduíche e um medicamento, prometendo retornar em breve.

A Equipe Argentina de Antropologia Forense revelou que Tenório foi vítima de disparos na madrugada em que desapareceu. Com apenas 35 anos, o pianista não possuía envolvimento com movimentos políticos e deixou quatro filhos e sua esposa, Carmen Cerqueira, grávida de oito meses. Seu sumiço causou profunda comoção na classe artística da época.

Artistas como Vinícius, Toquinho, Elis Regina e o poeta Ferreira Gullar, exilado em Buenos Aires, se mobilizaram em busca de respostas. Elis Regina, em homenagem à ausência de Tenório, dedicou seu álbum “Essa Mulher”, lançado em 1979.

A descoberta do corpo de Tenório em um terreno baldio, dois dias após seu desaparecimento, veio à tona agora. Foi enterrado sem identificação dias antes do golpe militar que depôs María Estela Perón e instalou a ditadura na Argentina por sete anos.

Organizações de direitos humanos estimam que cerca de 30 mil pessoas desapareceram durante esse período. Registros históricos apontam que, mesmo um ano antes do golpe, corpos eram encontrados nas ruas de Buenos Aires e as investigações eram arquivadas.

O reconhecimento de Tenório, através da análise de digitais, só foi possível devido a um levantamento da Procuradoria de Crimes contra a Humanidade, órgão argentino. A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos ainda não sabe se será possível exumar o corpo, localizado no Cemitério de Benavídez, para comparação genética.

A Comissão afirmou que continua acompanhando esse e outros casos relacionados à Operação Condor, aliança entre ditaduras na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, atuando na década de 1970 para vigiar, sequestrar, torturar, assassinar e fazer desaparecer militantes políticos opositores.

*Informações da Agência Brasil.

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