O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) expressou sua frustração com o novo adiamento do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, durante a cúpula do Mercosul realizada em Foz do Iguaçu (PR). A declaração foi feita em meio a um cenário de impasse diplomático e tensões geopolíticas.
Lula afirmou que esperava concluir o acordo comercial ainda neste fim de semana, mas reconheceu que a resistência de países europeus impediu o avanço final. A União Europeia havia comunicado que a assinatura do tratado foi adiada para janeiro, após um pedido da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni. O presidente brasileiro disse ter recebido apelos diretos da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente do Conselho Europeu, António Costa, para que o Mercosul aceitasse ajustes no texto.
Apesar disso, Lula afirmou que o bloco sul-americano já fez concessões suficientes ao longo dos anos de negociação. “Tanto a companheira Ursula von der Leyen [presidente da UE], como o cooperador António Costa [presidente do Conselho Europeu] pediram para que a gente fizesse a reunião no dia 20, que eles gostariam de vir participar dessa reunião aqui no Brasil. Tudo estava certo”, reclamou.
O acordo vem sendo discutido há mais de duas décadas e o Mercosul não pode ser responsabilizado por sucessivos adiamentos. Lula destacou que os países do bloco cumpriram exigências ambientais, comerciais e regulatórias impostas pela União Europeia, enquanto parte dos governos europeus segue condicionando a assinatura a pressões internas.
As boas relações entre Lula e o presidente da França, Emmanuel Macron, não impediram o atendimento do líder frances às resistências dos produtores. No entanto, Lula aposta na aprovação da Itália. “Se ela [Meloni] estiver pronta para assinar e faltar só a França, segundo a Ursula von der Leyen e o António Costa, não haverá possibilidade de a França sozinha não permitir o acordo”, afirmou.
O presidente brasileiro também criticou o intervencionismo dos Estados Unidos no Caribe, sem citar nominalmente Donald Trump. Ele alertou para o risco de agravamento de tensões na região e defendeu maior autonomia dos países latino-americanos nas decisões econômicas e estratégicas.
“Passadas mais de quatro décadas desde a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano volta a ser assombrado pela presença militar de uma potência extra-regional”, afirmou o presidente. “Os limites do direito internacional estão sendo testados”, continuou. “Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo.”
A fala ocorreu em um momento em que o Brasil tenta reforçar o papel do bloco como ator relevante no comércio internacional. Lula reiterou que o acordo com a União Europeia continua sendo prioridade. A União Europeia ocupa hoje a posição de segundo maior parceiro comercial do Brasil, com um fluxo de trocas que somou cerca de US$ 92 bilhões em 2023. De acordo com estimativas do governo brasileiro, esse relacionamento pode gerar um impacto positivo de até 0,34% no Produto Interno Bruto ao longo dos próximos 20 anos, o que representa aproximadamente R$ 37 bilhões.
As projeções também indicam um avanço de 0,76% nos investimentos, equivalente a R$ 13,6 bilhões, além de um crescimento real de 0,42% nos salários dos trabalhadores brasileiros, acima da inflação.
O presidente também afirmou que o Mercosul não aceitará ser tratado como parceiro de segunda categoria. E, apesar da frustração, disse manter a expectativa de que o tratado seja finalmente concluído em janeiro, desde que haja disposição política real do lado europeu para fechar o acordo nos termos já negociados. “Eu espero que seja assinado, quem sabe, no primeiro mês da presidência do Paraguai”, disse. “Vamos torcer para que as coisas aconteçam para o bem do nosso Mercosul, para o bem do multilateralismo.”
