Em meio à pressão de diversos setores da economia e do próprio governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinaliza um possível recuo no embate com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as tarifas impostas a produtos brasileiros. As conversas dentro do governo, iniciadas na semana passada, apontam para uma busca por cautela e limites na briga com o governo norte-americano, a fim de evitar um isolamento similar ao de países como Cuba e Venezuela.
Essa mudança de postura se deu após a decisão de Trump manter a taxação de 50% em diversos produtos brasileiros, mesmo isentando cerca de 700 itens, incluindo suco de laranja, celulose e aviões da Embraer. A inclusão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na lista de sancionados pela Lei Magnitsky Global também contribuiu para a busca por um caminho diplomático mais suave.
O primeiro indício do recuo de Lula veio durante o encontro nacional do PT no domingo (3), quando o presidente admitiu que as negociações exigem cautela e que há limites para a crítica a Trump. Lula afirmou que a diplomacia pressiona para suavizar o tom das críticas, reconhecendo que há uma necessidade de diálogo. “Eu tenho um limite de briga com o governo americano. Eu não posso falar tudo que eu acho que eu devo falar”, declarou.
Desde o anúncio das tarifas, Lula adotou uma postura mais combativa, concedendo entrevistas a veículos internacionais como o New York Times e a CNN para criticar Trump. Essa postura, porém, gerou repercussões negativas na Casa Branca, impedindo a abertura de negociações com o Brasil.
A sinalização de Trump de isenção de algumas tarifas e a possibilidade de contato direto com Lula foram interpretados por membros do governo como um sinal de abertura para negociações. Diante disso, assessores do presidente defendem que Lula também demonstre sinais de recuo, buscando um caminho de diálogo.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou os sinais positivos da Casa Branca e defendeu um gesto de Lula para preparar um encontro com o secretário de Tesouro americano. Haddad destacou a importância de manter as relações comerciais saudáveis, independentemente das questões políticas.
Além da pressão do governo, diversos setores empresariais também se manifestaram contra a aplicação da Lei da Reciprocidade, que permitiria ao Brasil impor sanções contra os Estados Unidos. Representantes do mercado argumentam que uma retaliação seria prejudicial e isolaria o Brasil, comparando a situação a países como Cuba e Venezuela.
A situação se torna ainda mais delicada para o Brasil, pois os Estados Unidos estão estabelecendo acordos comerciais com diversos parceiros, enquanto o diálogo com o Brasil não avança. A União Europeia, principal parceiro comercial dos EUA, já firmou acordos, assim como Japão, Indonésia, Filipinas e Vietnã. China e Índia também estão em negociações.
Analistas alertam que países que se atrasarem na negociação estarão sujeitos a condições menos favoráveis. A Amcham Brasil, em pesquisa realizada com empresas, constatou que 86% se opõem à retaliação imediata, considerando que as sanções agravariam as tensões e reduziriam o espaço para diálogo.
Além da sinalização de recuo em relação à Lei da Reciprocidade, Lula também busca alternativas para a reação às sanções contra Moraes. Embora não haja um caminho jurídico efetivo para contestar as sanções sob a Lei Magnitsky Global, o governo busca alternativas para proteger o ministro.
A expectativa é de que Lula faça um pronunciamento na cadeia nacional de rádio e TV para anunciar um pacote de compensações para os setores afetados pelas tarifas de Trump, além de reafirmar a disposição para negociar, mas sem abrir mão da soberania nacional e da independência do Poder Judiciário brasileiro.