Daniel Ferreira de Souza, subsecretário de Inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro, recentemente afirmou que a megaoperação realizada nos Complexos da Penha e do Alemão teve um impacto simbólico significativo sobre o crime organizado, mas um efeito prático “ínfimo” no enfraquecimento do Comando Vermelho. A operação resultou na prisão de 113 pessoas e na morte de 121, a maioria deles ligados à facção, de acordo com as autoridades do estado.
Segundo Souza, a operação foi fundamental para demonstrar a presença do Estado em áreas dominadas pelo crime, mas não conseguiu desestruturar o poder do Comando Vermelho. “Aquela grande operação teve um resultado impressionante à vista dos números, mas que ainda assim foi algo ínfimo dentro do poder do Comando Vermelho e das outras facções na estrutura do Rio de Janeiro. Então, isso não resolveu”, afirmou o subsecretário em uma sessão da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) no Senado.
O oficial ressaltou que o objetivo principal da ação era simbólico mais do que efetivamente prático, o de reafirmar que o Estado ainda tem o controle territorial sobre comunidades dominadas pelo tráfico. Isso porque, de acordo com ele, havia uma falsa crença de que a “ADPF das favelas”, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que limitou o uso da força policial nas comunidades, teria criado locais onde o poder público não podia entrar.
O Comando Vermelho, de acordo com Souza, utilizava essa narrativa para se expandir e cooptar criminosos de outras regiões do país. Segundo ele, entre os alvos da operação havia traficantes vindos do Pará, Bahia, Ceará e Amazonas. Para o governo fluminense, a demonstração de força das forças de segurança serviu para reverter o discurso de que o Estado não teria condições de atuar em determinadas áreas.
O oficial defendeu a continuidade das operações e a ampliação da integração entre forças estaduais e federais para enfrentar o crime organizado. “Se essa operação não vai resolver o problema, nós sabemos que não vai, ao mesmo tempo mostrou que a retórica que o Comando Vermelho usava para conseguir converter e atraír lideranças do Brasil foi subvertida e o Estado entra em qualquer lugar de fato”, enfatizou Daniel Ferreira.
O subsecretário também frisou que o Rio de Janeiro já tem o apoio do governo federal na segurança pública do estado, mas que é preciso aumentar a integração das forças. “Se o Brasil não se ver como um país que possui países e Estados dentro do próprio Estado, talvez estejamos fadados a muitos problemas e talvez mortes de brasileiros”, alertou o subsecretário.
Um dia após a megaoperação, os governos do Rio e federal criaram um “escritório extraordinário” para o compartilhamento de informações e desburocratização de rotinas para dar uma resposta à população sobre o combate ao crime organizado. Ao mesmo tempo, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, cobrou explicações sobre a legalidade da ação.
