SUICÍDIO UM PERIGO REAL E IMEDIATO

Por Sandra Campos

Meu nome é Sandra Campos, tenho 54 anos, sou divorciada, empresária, mãe de quatro filhos e dona de casa. Mais uma brasileira que luta para criar seus filhos. Num sábado, quase à meia-noite, meu filho Diego Wendell me pediu 50 reais. Eu sempre brincava e mandava umas figurinhas de dinheiro, mas, nessa noite, algo apertou meu coração. Não brinquei. Mandei o dinheiro e, na hora, perguntei: “Está tudo bem?”. Ele me respondeu:

“Você é minha mãe mesmo, Nega. Você sabe quando acontece tudo. Te amo. Você é foda.” Com uma voz triste e chorosa. Eu escrevi para ele no WhatsApp:

Eu te amo. Para mim, você importa. Por você dou minha vida. Eu estava longe de casa com um amigo e, na mesma hora, levantei para voltar. Demorei uma hora e meia. Quando cheguei, vi que Diego Wendell, meu filho, tinha bebido e estava triste. Ele perguntou ao meu amigo: “Teu pai bebe?” Meu amigo respondeu: “Já bebeu muito, já sofri muito, hoje não bebe mais.” E Diego respondeu: “Então você sabe o que eu passo.” Ele me pediu: “Mãe, você me interna?” Eu disse: “Por quê? Você não é alcoólatra.”  E ele respondeu: “Eu bebo e não quero ser assim.”

Fiz um ovo para ele e ele me pediu mais duas vezes para interná-lo. Eu disse: “Está bom, segunda-feira eu interno você.”  E falei: “Diego, vá dormir.” Ele me respondeu: “Vou tomar só mais uma cerveja.” E eu fui dormir. Afinal, ele já estava dentro de casa e seguro. No dia seguinte, levantei, fui à feira, fiz o almoço, coloquei a mesa e minha filha foi chamar Diego para almoçar. Ela voltou desesperada, gritando:

“Mãe, corre! Mãe, corre! O Diego está se matando!” Todo mundo saiu correndo. A casa estava cheia de crianças. Ao chegar à janela do quarto de Diego, nos deparamos com ele pendurado. Quebramos toda a parede do quarto para entrar, pois não tinha outra forma. Quando entrei, me deparei com meu filho enforcado, gelado, duro, com um olhar triste. Era o fim. Diego tinha se matado aos 24 anos. Diego era louco por futebol. Ele morreu num domingo; na segunda seria chamado para trabalhar na Portuguesa de Desportos.

Era um menino alegre, lindo, inteligente, formado em Administração, saudável, animado, educado, prestativo. Sempre querendo alegrar os amigos. Amava crianças. Jamais poderia crer que meu filho cometeria suicídio. A depressão não escolhe raça, idade, credo religioso ou profissão. Ela vem de mansinho e leva as pessoas embora. É um câncer — um câncer na alma, invisível.

Isso aconteceu comigo, mas pode acontecer com qualquer pessoa. Nenhuma família hoje está imune. Três dias após a morte de Diego, eu fui para o trabalho disposta a colocar um ponto final em minha vida. Trabalho no 12º andar de um prédio. Abri a janela, olhei para baixo e veio o pensamento:  “Vai, se joga mesmo. Pra que sofrer? Coloca um ponto final nisso.” Porém, ao mesmo tempo, veio um pensamento do bem: “Não faça isso. Seus outros filhos vão sofrer. Você é tudo que eles têm. Eles não merecem passar por mais essa dor. Eles vão se destruir.”

 

E eu tomei a decisão mais acertada da minha vida: viver para os meus filhos. Quem perde um filho para o suicídio passa por diversas dores além da saudade. Você se culpa, se pergunta: “Por quê?”, “E se eu tivesse…?”. Sente-se falha como mãe, incompetente, envergonhada. Isso nos perturba todos os dias. Um dia, passando na porta de um presídio, vi várias mães, esposas e filhos indo visitar pessoas presas. Estavam ali porque amam seu ente querido e não sentem vergonha de quem eles são. E nesse dia eu me dei conta de que o único mal que meu filho fez foi a si mesmo. Ele estava doente, de depressão. Depois desse dia, resolvi resignificar minha dor ajudando o próximo. Busquei o poder público e sugeri 13 projetos de lei que criam políticas públicas efetivas para a população, como:

Porém, o mais importante de tudo é disponibilizar o meu telefone (11) 94813-7799 para as pessoas que querem conversar antes de tirar suas vidas. Acolhê-las com empatia, amor e carinho. Mostrar para elas que a vida realmente é difícil, mas juntos podemos vencer. Meu filho Diego vive dentro de cada pessoa que eu ajudo.  E você também pode ajudar fazendo o mesmo com as pessoas que lhe procuram.

 

Sandra Campos é palestrante e ativista pró-vida. Insta: @sandracamposa_

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