Crise dos Semicondutores Atinge o Brasil
A crise dos semicondutores atinge o Brasil de forma particularmente grave, devido à sua dependência quase total em relação às importações desses componentes-chave. O setor automotivo, que emprega cerca de 1,3 milhão de pessoas e movimenta cadeias produtivas que incluem siderurgia, plástico e eletrônicos, enfrenta um cenário de forte tensão global.
A decisão do governo dos Países Baixos de intervenir na Nexperia, uma das principais fabricantes mundiais de chips automotivos, responsável por cerca de 40% do mercado global de componentes básicos usados em veículos, gerou reação imediata de Pequim. A China impôs restrições à exportação de produtos da Nexperia fabricados ou processados em território chinês, o que afetou diretamente o abastecimento internacional de semicondutores.
O bloqueio gerou um cenário de desabastecimento no mercado brasileiro, que depende fortemente desses insumos. A Anfavea estima que, sem reposição de chips, as montadoras teriam de suspender a produção em até três semanas. A abertura de diálogo com a China é vista como uma medida de proteção estratégica, tanto para garantir o fornecimento quanto para evitar impactos em cascata sobre o emprego e a economia.
O governo chinês está disposto a conceder exceções ao embargo, permitindo que as empresas nacionais brasileiras importem semicondutores. Fabricantes que enfrentarem dificuldades para importar semicondutores poderão solicitar exceção diretamente à Embaixada da China em Brasília ou ao Ministério do Comércio chinês, que avaliará individualmente cada pedido antes de conceder a licença especial de exportação.
A dependência do Brasil em relação às importações de chips é tal que cada veículo moderno produzido no país utiliza entre mil e três mil semicondutores. Esses componentes são empregados em sistemas que vão desde a injeção eletrônica e controle de freios até módulos de segurança e entretenimento. A interrupção no fornecimento pode paralisar as linhas de produção em questão de semanas.
O vice-presidente Geraldo Alckmin destacou que o gesto chinês é “um passo positivo”, mas ponderou que ainda é preciso acompanhar de que forma o compromisso se materializará na prática. Montadoras com maior integração à cadeia de suprimentos chinesa, como BYD e GWM, tendem a ser menos afetadas, enquanto fabricantes mais dependentes de fornecedores europeus ou norte-americanos permanecem em situação de vulnerabilidade.



