Alunos Cotistas Tendem a Ter Desempenho Mais Baixo em Universidades
Um estudo recente realizado por professores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) revelou que a promessa de que alunos cotistas, mesmo ingressando com notas mais baixas, tendem a igualar o desempenho de outros alunos dentro da universidade não se cumpre na prática. A pesquisa, publicada em outubro, analisou 14,5 mil alunos de Física, Biologia e Pedagogia matriculados de 2013 até julho de 2025 na Unesp e comparou três grupos: aqueles que ingressaram pela ampla concorrência, aqueles que vieram de escola pública e aqueles que entraram pelas cotas para pretos, pardos e indígenas.
Os pesquisadores encontraram que os alunos que ingressaram com nota mais baixa no vestibular tendem a ter desempenho mais baixo na universidade, e isso não melhora com o tempo. Especialmente em disciplinas difíceis, como Cálculo I, e cursos mais exigentes, como Biologia, a mesma ordem de desempenho tende a aparecer de forma consistente: primeiro os da ampla concorrência, depois os de escola pública e por último os cotistas.
O estudo também mostrou que reprovar e repetir a disciplina não corrige a defasagem. Pelo contrário, quanto mais vezes o aluno refez uma disciplina, menor ficou a chance de que passasse. Para os pesquisadores, isso torna evidente quão difícil é o aluno com pior desempenho recuperar a defasagem em relação aos outros.
Um dos principais argumentos pró-cota costuma ser justamente a ideia de que, uma vez dentro da universidade, os estudantes poderiam, aos poucos, aproximar seu desempenho daqueles que ingressaram pelo caminho convencional. No entanto, o estudo refuta essa hipótese. “Os dados mostram que não existe um ganho de qualidade considerável nos estudantes que entram com as menores notas no vestibular”, diz Marcelo Yamashita, professor livre-docente da Unesp e doutor em Física pela USP.
Segundo Yamashita, áreas de formação com nível mais baixo de exigência não são as mais adequadas para avaliar a eficácia das cotas, porque o desempenho nelas tende a ser mais homogêneo. Cursos com altas taxas de aprovação, como Pedagogia, tendem a mascarar diferenças que se tornam evidentes quando se consideram cursos mais seletivos, como Física.
“A maioria dos discursos a respeito de cotas se apoia em argumentos de natureza política ou ideológica e não na análise rigorosa dos dados”, afirma Yamashita. “Boa parte dos estudos existentes coloca a análise de humanidades, exatas e biológicas no mesmo balaio, aí qualquer diferença perceptível fica encoberta pelos cursos que têm alta aprovação”.
Para ele, é preciso que as instituições de ensino superior fiquem alertas até mesmo em relação à própria imagem no mercado. “Se o curso tem uma alta taxa de aprovação, ele estará formando pessoas que são bem menos preparadas do que outras, embora tenham o mesmo diploma”, comenta Yamashita. “Isso pode se refletir diretamente na percepção que o mercado de trabalho e a sociedade têm da universidade: ao receber um profissional despreparado, pode parecer que a universidade não cumpre bem o seu papel formador”.
Forçar a presença de alunos com baixo desempenho em instituições de ensino superior com base no argumento de inclusão social é, para Yamashita, um equívoco. “Inclusão é mais do que somente alguns anos sentados nas cadeiras da sala de aula”, diz. “Existe uma confusão na universidade em atribuir a si mesma a tarefa de resolver todos os problemas sociais como parte de sua missão e afastar-se dos assuntos eminentemente acadêmicos”.



