Editorial

A Concorrência Desleal do Tráfico de Drogas

por Sandra Campos – Ativista pela Vida.

Todos os dias, milhares de jovens são atraídos para o tráfico de drogas pela
promessa de uma vida melhor, repleta de status, bens materiais e poder. A ilusão da
riqueza rápida seduz principalmente adolescentes e crianças oriundos de famílias
pobres, que enxergam no crime uma possibilidade de ascensão social que o caminho
honesto, muitas vezes, não parece oferecer.

Para muitos desses jovens, o cotidiano da família é marcado por sacrifício
extremo. Pais que acordam às 4h30 da manhã para enfrentar longas horas de
transporte, jornadas exaustivas de trabalho e que, ao final do mês, recebem um salário
mínimo que mal cobre aluguel, alimentação e necessidades básicas. São pessoas que
envelhecem rápido, marcadas pelo cansaço e pela falta de oportunidades, e que,
frequentemente, não conseguem dedicar tempo e atenção aos próprios filhos.

Enquanto isso, nas ruas, esses jovens convivem com a realidade da
ostentação do tráfico: motos, carros, roupas de marca, relógios caros, festas e
atenção. O traficante se torna símbolo de sucesso no bairro. Ele é admirado, tem
seguidores, aplausos, poder. Diante disso, a vida honesta dos pais parece pequena,
sofrida e sem recompensa. A comparação é cruel — trata-se de uma concorrência
desleal.

Somado a isso, muitos estudam em escolas públicas desestruturadas, onde
falta acompanhamento, apoio, motivação e, muitas vezes, não existe nem mesmo
reprovação que estimule o aprendizado. A criança cresce sem referências de futuro,
sem perspectivas reais de mudança.

Assim, o jovem passa a acreditar que o tráfico é o único caminho capaz de
proporcionar a vida que sonha — quando, na verdade, essa escolha o leva a uma rota
quase sem retorno. A realidade do crime é dura: medo, violência, perda de liberdade
e, na maioria das vezes, um desfecho trágico. Entre presídios e cemitérios, poucos
sobrevivem ou conseguem recomeçar.

Ao entrar em unidades prisionais, é impossível não se chocar com o impossível
não se chocar com o número de jovens, muitos deles com potencial, força e
inteligência, que poderiam estar construindo carreiras, empreendimentos e vidas
dignas. Mas não lhes foi mostrado outro caminho, outra possibilidade, outro valor.
Mas…como mudar essa realidade?

A resposta é clara: educação de qualidade em tempo integral, com acesso a
esporte, cultura, orientação e propósito. É necessário oferecer aos jovens exemplos
reais de pessoas que venceram na vida por meio do estudo, do trabalho, do talentodo
talento e da disciplina — empresários, atletas, artistas e profissionais de diversas
áreas que começaram do zero e construíram sua história com dignidade.

A fé, a espiritualidade e a comunidade também desempenham papel
fundamental na formação do caráter, do autocuidado e da esperança. Quando uma
pessoa descobre que tem valor, propósito e capacidade, ela passa a sonhar diferente.
Um país só muda quando seus jovens mudam.

Para que o mundo do bem seja mais atrativo do que o mundo do crime, ele
precisa ser visível, acessível e valorizado. É papel do poder público garantir oportunidades, mas é também responsabilidade da sociedade formar referências positivas e oferecer acolhimento. Apesar das adversidades, muitos jovens resistem e
escolhem o caminho correto. Esses são exemplos de que é possível transformar dor
em força, pobreza em superação e limites em conquistas. Mas eles não podem
caminhar sozinhos. Porque, no fim, o futuro depende do caráter, mas o caráter é
fortalecido pelas oportunidades que damos às crianças e adolescentes hoje.

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