Conservadores, até a página 2

Por Milena Popovic Mantovani
Eu, Milena Popovic Mantovani, venho desde o dia 12 de maio tentando escrever sobre um assunto que se tornou um espinho entalado em minha garganta: as declarações misóginas do atual ministro das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, que foram divulgadas recentemente em redes sociais por meio de vídeos apócrifos.
Em uma dessas declarações, o referido ministro, que se apresenta como católico, conservador e pró-vida, afirma que a legislação que garante a licença-maternidade “diz” ao empresário para não promover mulheres no ambiente de trabalho. Ele ainda afirma que a licença maternidade de 6 meses seria algo “criminoso” contra a mulher.
A frase, letra por letra, foi a seguinte: “Eu, por exemplo, sou contra a licença-maternidade de seis meses, isso pra mim é criminoso contra a mulher. Você dar uma licença-maternidade de 6 meses para mulher é mais ou menos como você chegar para um empresário e falar: não promova uma mulher. Isso porque, se ela engravidar, vai ficar 6 meses fora da empresa”.
Eu, Milena, afirmo que provavelmente esse senhor não deve ser casado, tampouco deve ter filhos. Caso fosse pai, e se fosse realmente católico e conservador como diz ser, compreenderia algo básico: a licença-maternidade é um direito da criança. Todo bebê deveria ter o direito de ser amamentado exclusivamente até os seis meses de vida. Um verdadeiro conservador, católico e pró-vida deveria pensar nos direitos das crianças, principalmente dos bebês (que não têm voz nem força para se defender).
O único crime relativo à licença-maternidade é não ser maior, por uma série de motivos.
O primeiro deles é que, logicamente, se é recomendável que bebês permaneçam em aleitamento materno exclusivo até os seis meses, a licença-maternidade de quatro meses é totalmente descabida.
O segundo motivo é que, convenhamos: todos os meses de gestação têm quatro semanas, exceto o último, que parece ter 40 semanas, em vez de apenas quatro. O correto seria permitir à gestante permanecer sem trabalhar nesse período, que é o mais desconfortável.
Pela soma dos dois motivos, chegamos à necessidade de sete meses de licença-maternidade. Mas os questionamentos não acabam aí.
O grande questionamento que permanece, e que lanço aqui ao movimento pró-vida e conservador é: bebês só têm direitos enquanto ainda estão nos ventres de suas mães? Temos, no Brasil, um verdadeiro exército de mães que são chefes de família. É correto desprezá-las, e também aos seus filhos, em nome de um mundo ideal e inexistente, onde todas as mães são casadas e sustentadas pelos maridos, mundo que, pelo visto, é pregado pelos conservadores, pero no mucho, ou “conservadores, até a página 2”?