Sanções EUA, Moraes e a Divisão da Direita em 2026

A decisão do presidente americano, Donald Trump, de impor tarifas sobre produtos brasileiros, somada à inclusão do ministro Alexandre de Moraes (STF) na lista de sanções da Lei Magnitsky, gerou um terremoto no cenário político brasileiro. O clima de tensão entre a família Bolsonaro e líderes do Centrão, que tentam forjar uma aliança para a eleição presidencial de 2026, se intensificou.
A ofensiva americana, justificada pela perseguição judicial a Bolsonaro, de acordo com a Casa Branca, gerou atritos dentro do espectro conservador. Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, criticou figuras consideradas reticentes em relação à crise, como os governadores presidenciáveis Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Jr. (PSD-PR), além do aliado Nikolas Ferreira (PL-MG). A ausência de Tarcísio, Ratinho Jr., Ronaldo Caiado (GO) e Romeu Zema (MG) nas manifestações pró-Bolsonaro do último domingo também demonstrou a cautela desses governadores em relação ao tema, buscando evitar qualquer associação com a crise diplomática e comercial.
Jair Bolsonaro, inicialmente mais incisivo em suas críticas, adotou um tom mais moderado, especialmente em razão das restrições impostas a ele por Alexandre de Moraes, que aumentam o risco de sua prisão preventiva.
Por outro lado, o governo Lula aproveitou a situação para fortalecer um discurso nacionalista e mobilizar sua base, explorando a perspectiva de uma eventual condenação de Bolsonaro no julgamento sobre o golpe de 8 de janeiro.
A ausência de importantes líderes do campo conservador nos protestos contra Moraes, realizados em diversas cidades do país, evidenciou a tentativa de distância estratégica desses governadores. Em suas justificativas, Tarcísio se recuperava de um procedimento médico, Caiado alegou a necessidade de diálogo e Zema manteve-se ausente, enquanto Ratinho Jr. se dedicou a uma agenda interna no Paraná.
Analistas defendem que os governantes também podem ter evitado uma possível baixa adesão aos atos, buscando evitar uma associação negativa com a manifestação. Por outro lado, no cenário político, essa postura é interpretada como uma tentativa de preservar suas candidaturas em 2026, evitando represálias do STF, mas mantendo-se como alternativas a Bolsonaro.
A tensão entre o governo brasileiro e os Estados Unidos, aliada ao posicionamento de Bolsonaro e seus aliados, gerou um debate intenso sobre a união entre direita e centro-direita em 2026. O cientista político Leonardo Barreto, da consultoria Think Policy, avalia que essa aliança enfrenta um teste crucial. O apoio de Bolsonaro, porém, continua sendo um trunfo importante para os partidos do Centrão, gerando um dilema para os governadores que buscam um equilíbrio entre o apoio à base conservadora e a necessidade de evitar uma polarização excessiva.
Zema, por outro lado, se posiciona de forma mais assertiva, criticando o governo, o STF e o impacto do tarifaço, defendendo a inclusão da anistia a Bolsonaro nas tratativas com os EUA e questionando a pertinência da participação do Brasil no bloco BRICS.
Eduardo Bolsonaro intensificou as críticas aos governadores, acusando-os de omissão diante das sanções americanas. Ele também reprovou a viagem de senadores brasileiros aos EUA, buscando diálogo com o governo Trump, incluindo a ex-ministra Tereza Cristina (PP-MS), e criticou Nikolas Ferreira por não se posicionar de forma mais firme em defesa do tarifaço. Nikolas, por sua vez, procurou demonstrar uma postura conciliadora, reconhecendo a importância da atuação de Eduardo no processo, mas também defendendo a denúncia internacional contra o abuso de autoridade.
A crise diplomática e comercial gerada pelas sanções americanas traz desafios e oportunidades para diferentes players políticos no Brasil. Enquanto o governo Lula busca explorar a situação para fortalecer seu discurso e mobilizar sua base, a direita tenta se reorganizar e buscar alternativas para se manter relevante na arena política.
O apoio de Trump a Bolsonaro, embora gere capital político para o ex-presidente, também coloca em risco a imagem do Brasil no cenário internacional e coloca a direita brasileira em uma posição complexa, buscando equilibrar o apoio à base conservadora com a necessidade de evitar um conflito diplomático com os EUA. A situação exige cautela e estratégia para evitar que o Brasil se torne um campo de batalha para disputas políticas internacionais.