Governo mantém em sigilo telegramas diplomáticos sobre JBS e negócios nos EUA
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu manter em sigilo por cinco anos dois telegramas diplomáticos que envolvem os irmãos Joesley e Wesley Batista e os negócios da JBS nos Estados Unidos. Esse movimento ocorreu durante as negociações do Brasil para tentar reverter o tarifaço de 50% imposto pelo presidente norte-americano Donald Trump à carne brasileira e a outros produtos.
O pedido de acesso aos documentos foi feito pelo jornal O Globo com base na Lei de Acesso à Informação (LAI) ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). A apuração, publicada na sexta-feira (24), foi confirmada pela Gazeta do Povo.
A solicitação pedia o conteúdo completo de comunicações entre o Itamaraty e a embaixada do Brasil em Washington, de 1º de julho até o momento, envolvendo os irmãos Batista e a JBS. Dos três telegramas que mencionam a empresa e seus donos, apenas um foi liberado.
O Ministério das Relações Exteriores justificou a decisão de manter os documentos em sigilo citando o artigo 23 da Lei de Acesso à Informação, que permite restringir o acesso a dados que possam “prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais do país”.
O único documento liberado é datado de 26 de agosto, em que a embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti faz uma análise sobre o impacto do tarifaço americano nos preços da carne bovina nos Estados Unidos. Já as outras duas comunicações foram classificadas como “reservadas”, com grau de sigilo de cinco anos.
Esse movimento ocorreu na esteira das negociações entre o Brasil e os Estados Unidos para tentar reverter o tarifaço de 50% imposto pelo presidente norte-americano Donald Trump à carne brasileira e a outros produtos. O tarifaço foi anunciado em 9 de julho, quando Trump enviou uma carta a Lula estabelecendo as novas taxas sobre produtos brasileiros, incluindo a carne bovina.
A JBS é líder mundial no setor de processamento de carne e mantém nove unidades industriais nos Estados Unidos, mercado que responde por cerca de metade da receita global, de US$ 77 bilhões em 2024. O presidente norte-americano classificou como “uma vergonha internacional” e uma “caça às bruxas” o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), condenado a 27 anos e três meses de prisão.
Lula e Trump devem se reunir em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a reunião de cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), na qual o tarifaço será um dos temas centrais da conversa.
“A gente conhece muita gente lá, né? Tem que falar bem do Brasil, coisa que todo brasileiro deveria fazer. Infelizmente, nem todo brasileiro fala bem do Brasil”, disse Joesley ao Estadão. Ele também esteve em Jacarta, na Indonésia, junto da comitiva de Lula e outros empresários para ampliar o comércio bilateral com o país asiático.



