O início do novo ano letivo na Ucrânia se aproxima, e a sombra da guerra paira sobre o país. As autoridades ucranianas expressam sérias preocupações com o aumento do risco de adolescentes serem induzidos pela Rússia a cometer atos de sabotagem.
Nos últimos 18 meses, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) prendeu mais de 700 pessoas acusadas de espionagem e sabotagem, sendo que um quarto desses indivíduos era composto por jovens menores de 18 anos, segundo informações divulgadas pelo jornal britânico Financial Times.
O Kyiv Independent, em sua edição desta quinta-feira (28), relata que esses jovens ucranianos, muitas vezes alvos de recrutamento online, participam de atividades que vão desde o plantio de bombas em locais públicos e a incêndio de veículos até a realização de pichações contra o país e o envio de fotos de alvos militares para agentes russos.
Vasyl Bohdan, chefe do Departamento de Prevenção Juvenil da Polícia Nacional da Ucrânia, afirmou em entrevista ao periódico que o principal canal de aliciamento é o aplicativo de mensagens Telegram. Os agentes russos exploram a inocência e a vulnerabilidade dos jovens para atraí-los para seus planos.
Bohdan explica que, na maioria dos casos, as crianças não compreendem a gravidade das ações que estão sendo induzidas a cometer. Muitas vezes, acreditam estar apenas participando de um jogo ou entregando pacotes aparentemente inofensivos. É quando a verdade se revela, e eles percebem que foram usados para atos de sabotagem, que são chantageados com a ameaça de exposição de fotos comprometedores ou a divulgação de sua colaboração com o Kremlin.
Um caso trágico ilustra a brutal realidade: em março, dois adolescentes da cidade de Ivano-Frankivsk foram pagos para plantar um dispositivo explosivo. O atentado, detonado remotamente por serviços de inteligência russos, deixou um dos jovens morto e o outro ferido.
Diante desse cenário preocupante, as autoridades ucranianas não se limitam à repressão direta a esses atos de sabotagem. Uma campanha de educação em massa visa conscientizar os jovens sobre os perigos do recrutamento online por parte da Rússia.
Os resultados dessa iniciativa são encorajadores: o número de casos envolvendo adolescentes em atos de sabotagem vem diminuindo. Aumento do número de relatos de jovens que denunciam contatos suspeitos com agentes russos também tem sido observado. Segundo Bohdan, os jovens estão começando a perceber que se trata de uma atividade ilegal, um ataque estratégico do inimigo com o objetivo de desestabilizar o país.
