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Jovens Aprendizes: inclusão digital, excelência profissional e cidadania

Jovens Aprendizes e os desafios contemporâneos

Ao longo do tempo em que atuo como instrutor de informática, tenho observado como o programa Jovens Aprendizes se tornou uma das portas de entrada mais relevantes para o mundo do trabalho. A geração Z, composta por adolescentes e jovens adultos que passaram a vida conectados (os nativos digitais), costuma ser vista como naturalmente familiarizada com a tecnologia. Entretanto, minha vivência prática tem mostrado que a relação deles com os meios digitais é mais complexa do que aparenta.

Grande parte dos estudantes chega às aulas dominando o uso de aplicativos de mensagens, redes sociais e recursos de entretenimento. Porém, quando a demanda muda para o contexto profissional — uso de computadores, navegação em ambientes corporativos, elaboração de documentos, análise de planilhas ou organização de tarefas — surgem dificuldades importantes. Nesse sentido, não é raro encontrar quem nunca tenha utilizado um computador ou quem conheça apenas superficialmente ferramentas essenciais, como o Pacote Office e plataformas de produtividade.

É justamente nesse ponto que o trabalho com Jovens Aprendizes revela sua importância: ajudar a transformar o uso social da tecnologia em uso profissional, ampliando as possibilidades de crescimento e autonomia desses jovens.

Jovens Aprendizes

Inclusão Digital e construção de novas competências

A Inclusão Digital tem deixado de ser apenas um diferencial e se tornado um requisito básico para participação plena na sociedade contemporânea. Nas turmas em que atuo, percebo que, quando o jovem aprende a digitar com velocidade, estruturar documentos, manipular dados ou criar apresentações, ele vivencia um processo de empoderamento real. A sensação de “eu consigo” substitui a insegurança inicial, e isso impacta diretamente sua autoconfiança e sua forma de se posicionar no ambiente de trabalho.

A ausência prévia de contato com computadores, muitas vezes resultado de limitações socioeconômicas, não impede que esses jovens avancem rapidamente quando recebem orientação adequada. A metodologia prática, guiada passo a passo, aliada à contextualização do uso de cada ferramenta, transforma o aprendizado em algo concreto e aplicável. Dessa forma, a Inclusão Digital vai além do domínio técnico: ela se converte em ferramenta de transformação pessoal.

A importância do desenvolvimento técnico-profissional

A atuação com Jovens Aprendizes revela diariamente que o mercado atual exige múltiplas competências. Não basta conhecer apenas uma ferramenta; é necessário compreender como os recursos tecnológicos se articulam no cotidiano profissional.

Entre as habilidades mais demandadas, destaco:

  • Criação de documentos profissionais: elaboração de relatórios, cartas, formulários e textos normatizados;
  • Produção de planilhas organizadas e visualmente claras: desde operações básicas até gráficos e pequenas análises de dados;
  • Uso consistente de apresentações: construção de slides com clareza e propósito, fugindo do excesso de efeitos e da estética improvisada;
  • Práticas de digitação: fluência ao teclado, domínio de atalhos e agilidade na navegação por janelas e aplicativos;
  • Compreensão da lógica dos sistemas corporativos: logins, senhas, formulários, pastas compartilhadas, plataformas de comunicação interna.

Essas competências contribuem para a construção da chamada excelência profissional, tornando os jovens mais preparados para desafios reais, mesmo antes da experiência formal de trabalho se consolidar. O letramento digital orientado — isto é, o desenvolvimento de uma atuação consciente, crítica e produtiva com o uso das tecnologias — amplia o repertório desses jovens e fortalece sua capacidade de inserção no mercado.

Inclusão Digital

Cidadania, autonomia e responsabilidade digital

A formação de Jovens Aprendizes ultrapassa o campo profissional. O mundo digital atravessa também a maneira como os jovens acessam serviços públicos, acompanham oportunidades de estudo, lidam com questões financeiras e participam da vida cidadã. Por isso, a Inclusão Digital desempenha papel fundamental na redução de desigualdades e no fortalecimento da autonomia individual.

Ao aprender a reconhecer golpes, configurar privacidade, verificar fontes, produzir conteúdo com responsabilidade e navegar com segurança, o jovem desenvolve competências essenciais para a vida social. A cidadania digital se manifesta em atos simples — como preencher um currículo online, acessar plataformas governamentais, utilizar bancos digitais ou participar de cursos e formações disponíveis na internet.

A escola profissionalizante, quando bem estruturada, cria um ambiente seguro para que os estudantes explorem essas ferramentas. A oportunidade de errar, experimentar e aprender sem julgamento é um diferencial poderoso. Nas minhas turmas, costumo estimular a curiosidade e a autonomia, mostrando que a tecnologia não é algo distante ou inacessível, mas um recurso cotidiano que pode ser dominado com prática e orientação.

O papel do instrutor na formação dos Jovens Aprendizes

Assumir o papel de instrutor no processo de formação dos Jovens Aprendizes vai muito além de ensinar comandos ou ferramentas. Trata-se de criar pontes entre o conhecimento prévio e o conhecimento novo, entre a juventude e o mundo do trabalho, entre experiências diversas e oportunidades futuras.

O instrutor se torna um facilitador de descobertas, incentivando a prática, promovendo a reflexão crítica e proporcionando experiências de aprendizagem significativas. Ao reconhecer a trajetória individual de cada jovem, é possível adaptar estratégias, oferecer apoio e orientar para escolhas profissionais mais conscientes.

Ao final de cada ciclo formativo, fica evidente que o processo de Inclusão Digital é também um processo de inclusão humana. Cada habilidade adquirida se converte em mais um passo rumo à autonomia, à dignidade e ao protagonismo social.

Informática

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Davi "Nana Kofi Adom" Valukas

Davi Valukas é músico, poeta, ensaísta, redator, professor, designer instrucional, especialista em gamificação e embaixador cultural. Representa o Reino Bunyoro Kitara no Brasil, monarquia subnacional localizada em Uganda, na região dos Grandes Lagos, na África Oriental, além de ser membro de diversas organizações socioculturais de diversos países. Atua na interseção entre Cultura, Tradição & Inovação, Tecnologia e Educação. É graduado em Gestão de Recursos Humanos, com pós-graduações lato sensu em Docência dos Ensinos Médio, Técnico e Superior, em Educação Musical e Ensino de Artes e em Semiótica e Análise do Discurso, além de ser pós-graduando em História Cultural. Recebeu alguns prêmios por sua atuação cultural, entre eles a Comenda da Ordem do Mérito Cultural Carlos Gomes, da Sociedade Brasileira de Artes, Cultura e Ensino, e a Comenda das Letras da Ordem do Mérito Histórico-literário Castro Alves, da Confederação de Ciências, Letras e Artes do Brasil.

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