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Lula defendia alternativa ao dólar em meio à crise com EUA

Em meio a uma crescente tensão diplomática com os Estados Unidos, o presidente Lula insiste em defender a busca por uma alternativa ao dólar nas transações comerciais internacionais. O tema, já debatido há algum tempo no âmbito do bloco Brics, ganhou ainda mais força após a imposição de tarifas de 50% pelo governo americano sobre produtos brasileiros.

A posição brasileira, considerada por alguns analistas como inoportuna, tem gerado reações negativas por parte do governo americano. Donald Trump, em discurso recente, afirmou categoricamente que o dólar continuará sendo a moeda dominante no comércio internacional e que qualquer país que tentar se desvincular desse sistema estará sujeito a sanções econômicas.

Economistas brasileiros, no entanto, consideram a proposta de Lula pouco realista e altamente improvável de ser concretizada no curto prazo. Mauro Rochlin, da FGV-SP, argumenta que a mudança de paradigma no sistema financeiro global exige uma série de fatores complexos, como a existência de uma economia de grande porte, um comércio exterior relevante e a confiança internacional na nova moeda.

Simão Silber, professor da USP, vai além e critica a postura do governo, afirmando que “as bravatas” de Lula podem ter consequências negativas para o país. A exclusão do Brasil do sistema Swift, por exemplo, seria um duro golpe para a economia brasileira, como exemplifica o caso da Rússia, que sofreu severas perdas após ser retirada do sistema por Moscou.

A hegemonia do dólar no cenário internacional se consolidou após a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos se tornaram a maior economia do mundo. A moeda americana passou a ser utilizada como lastro para o sistema de câmbio fixo, garantindo sua estabilidade e valor.

Hoje, o dólar participa de cerca de 70% das transações internacionais, compõe a maior parte das reservas cambiais globais e controla os principais sistemas de pagamento, como o Swift. Essa posição de destaque se deve ao amplo comércio exterior americano, ao tamanho da sua economia e à confiança que os países depositam na estabilidade financeira dos Estados Unidos.

A União Europeia, mesmo com a força do euro, ainda não consegue superar a influência do dólar no mercado financeiro global. A China, por sua vez, busca alternativas para reduzir sua dependência do dólar, mas o yuan ainda carece de confiança internacional e o sistema financeiro chinês ainda não é totalmente transparente.

A criação de sistemas alternativos de pagamento, como o SML (Sistema de Pagamentos em Moedas Locais) e o CIPS (Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços), são passos em direção a uma possível redução da dependência do dólar, mas ainda são iniciativas regionais e com limitada escala de aceitação global.

Para alterar o status quo e destronar o dólar, seria necessário um esforço global de longo prazo para construir uma nova ordem financeira, com uma moeda alternativa de grande solidez e confiança internacional.

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