Educação

Professor Agredido na Unesp: Racismo, Assédio e Violência nas Universidades

O professor Gabriel Cepaluni teve uma experiência marcante ao chegar ao campus da Unesp em 2 de setembro. Dezenas de alunos o aguardavam, expressando sua insatisfação com gritos de “racista”, “fascista” e “assediador”.

Cepaluni relata que a situação se intensificou quando ele tentou contestar as provocações, gravar com seu celular e entrar em sala de aula. Nesse momento, afirma ter sido agredido com empurrões e socos no rosto e na cabeça, além de ter sua roupa rasgada e ser derrubado no chão.

“Não revidei. Procurei apenas me proteger dos golpes e buscar ajuda. Desde o início tentei dialogar, mas jamais imaginei que enfrentaria violência física dentro da universidade. Eu sabia que se revidasse perderia a razão”, descreve o professor.

O docente, responsável por disciplinas de Relações Comerciais Internacionais e Análise de Política Externa, afirma que nunca havia enfrentado desrespeito de alunos em sala de aula e sempre defendeu a liberdade acadêmica e o debate plural.

“O episódio não decorre de atrito individual, mas de uma ação organizada. Críticas acadêmicas sempre foram bem-vindas e fazem parte da universidade. O que ocorreu em 2 de setembro não foi crítica: foi violência e tentativa de silenciamento”, pontua Cepaluni.

De acordo com o professor, durante o tumulto, seus óculos de grau e chapéu desapareceram, e sua mochila, que continha um laptop, foi aberta. A busca por respostas levou o professor a registrar boletim de ocorrência, apresentar laudos médicos e solicitar providências à direção e à reitoria, incluindo o afastamento por acidente de trabalho.

Apesar de seus esforços, Cepaluni afirma não ter recebido manifestação institucional clara em sua defesa. A Unesp ainda não havia emitido nota pública de repúdio ao episódio até a publicação desta matéria.

A reportagem buscou a Unesp para questionar as providências a serem tomadas em relação à União da Juventude Comunista da Unesp, que promoveu a manifestação, além de indagar sobre a identificação e eventual punição dos estudantes envolvidos.

A universidade respondeu afirmando seu compromisso com a defesa dos direitos humanos e combate a toda forma de assédio, discriminação e violência dentro de sua instituição. Informaram que já foram tomadas as providências legais para apuração dos fatos e outras medidas administrativas pertinentes. A instituição reiterou a defesa da liberdade acadêmica e também o combate à violência no âmbito da Universidade, destacando a campanha ‘UNESP Sem Assédio’, a Ouvidoria e iniciativas como guias de enfrentamento a várias formas de violência.

A falta de uma nota pública clara de repúdio aos ataques, no entanto, levanta questões sobre a postura da universidade frente ao ocorrido.

Cepaluni se sente profundamente abalado pelo ocorrido, especialmente pela omissão de muitos colegas e alunos. “A história mostra que a omissão diante de abusos abre caminho para tragédias maiores. Sempre defendi a não agressão e o debate, e sigo acreditando que esse é o caminho correto”, afirma.

O professor alerta para o clima de intimidação que se instalou no ambiente universitário, onde o medo parece substituir o debate. “Já presenciei falas que ultrapassaram o campo da crítica legítima e entraram na intimidação. Esse clima de tolerância com excessos cria espaço para episódios como o que sofri”, relata.

Para Cepaluni, o caso não é apenas um ataque pessoal, mas um sintoma de algo maior: a transformação da universidade em um ambiente onde o medo substitui o debate e onde grupos organizados testam os limites da violência física para calar vozes dissidentes.

A falta de resposta institucional clara do episódio, portanto, configura um precedente perigoso. Mais do que uma questão individual, revela um risco estrutural para a própria ideia de universidade como espaço de liberdade intelectual e de busca pelo conhecimento.

Mostrar mais

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo