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Rayssa, o esporte e o direito!

Mulheres no esporte. Mulheres no direito. Mulheres para vida.

Sou da época em que me inspirava nas mulheres dos esportes femininos. Sou da época em que assistia encorajadamente Hortência jogar basquete com Magic Paula e Janeth. Tamanha a motivação fui jogar basquete. Sou da época em que assistia ao tropical vôlei de areia com a dupla Jaqueline e Sandra, as primeiras brasileiras a ganharem ouro em jogos olímpicos. Sou da nostálgica época em que assistia a Ana Moser, Ana Paula do vôlei, Marcia Fu, Fernanda Venturine. As manhãs de domingo ganhavam mais cor ante os programas de esporte e carros.

Não da minha época (fica a licença da idade), mas tão brilhante quanto as atletas destes tempos, a nadadora Maria Lenk foi a 1ª sul-americana a participar de uma olimpíada (1932), deixando sua marca no esporte nacional. A tenista Maria Eshter Bueno, a bailarina do tênis, ganhou 19 títulos de Grand SLAM e foi a número UM do mundo por quatro temporadas (década de 60). Não nadei, mas aprendi a jogar/brincar de tenis.

Trago ainda registros na memória de mulheres igualmente fortes, com records, legados e conquistas deixados ao longo da história. A romena Nadia Comaneci, com 14 anos conquistou o primeiro 10 da modalidade, são cinco ouros olímpicos e dois mundiais. Serena Willians, mesmo depois de grávida, já tem 23 grans slams no currículo. Simone Biles com diversas medalhas olímpicas na ginástica. Ainda assisti a jogadora Marta ser, por várias vezes, consagrada a melhor jogadora de futebol do mundo. Palpito que gostaria dela vê-la escalada até na seleção masculina. Assisti Fabiana Murer desafiando a gravidade em salto com vara. Assisti a gaúcha Daiane honrando a nossa pátria, com o então conhecido duplo twist carpado, na antológica apresentação com a música “brasileirinho”. E com folego de atleta, ainda lembro da Fernanda Keller, 5 vezes campeã do Ironman Brasil, disputou o Ironman mundial por 22 anos seguidos e esteve entre as dez melhores do planeta por 14 vezes e, ainda, levou o prêmio Forbes de mulher mais influente do esporte. Maya Gabeira valente e desbravadora de grandes ondas pelo mundo, superando seu próprio record a “dropar” uma onda de mais de 22 metros. Amanda Nunes, brasileira, que recentemente e, de forma inédita, defendeu ao mesmo tempo dois cinturões no UFC. Até já me diverti com algumas ondas por aí, mas nunca fui ou me tornei uma acrobata, saltadora, corredora. Mas, o mais importante, ainda que na qualidade de expectadora, todas essas vencedoras me despertaram para superar meus próprios limites físicos, mentais e espirituais. Creio que só se vence unindo estes limites e utilizando-os como força propulsora de vitórias.

Assim nessa tríade corpo, mentes e espírito, temperados com esforço, dedicação e sorte podemos chegar em qualquer lugar, disputando qualquer cargo, lugar ou pódio do esporte. Já nascemos vitoriosas, até porque no jogo da vida, ultrapassamos os impedimentos, as faltas, as transgressões e nos tornamos mães, mulheres, esposas, profissionais, múltiplas e completas.

O esporte é uma das melhores fórmulas de inserção social, de crescimento pessoal e coletivo, de estimulo ao patriotismo, de equilíbrio, de inspiração, de espelhos saudáveis, cheios de boas referencias, de histórias de superação, de esforço, de vitórias. O esporte, assim como o direito, também acompanha a evolução social. Vamos ao giro esportivo da mulher.

Nos Jogos da Antiguidade na Grécia não há registro de mulher disputando os jogos, pelo contrário os eventos contavam com a participação e audiência exclusiva dos homens.

Já no inicio da Era Moderna desportiva, em 1896, com o retorno dos Jogos idealizados por Pierre de Coubertin (baseado no modelo dos Jogos Gregos), há registro da participação de 300 atletas, nenhuma mulher.

Em 1900, em Paris, na França, registrou-se a 1ª edição dos Jogos com competidoras mulheres, apenas 22, entre 975 homens. Elas disputaram as modalidades de Tênis e Golfe. Charlotte Cooper vence a competição no simples de tênis – a primeira medalha olímpica para uma mulher.

Em 1912, em Estocolmo/Suécia foi incluída a modalidade de natação para mulheres. No evento há ainda um episódio de destaque, ocorrida com a delegação norte americana, a qual vetou a participação de suas atletas femininas nas competições de natação, em razão das vestimentas (maiôs), obrigado-as a vestir saias longas durante todos os eventos. Na versão de 2021 (Japão) tivemos as atletas norueguesas censuradas e multadas, por se recusar a vestir biquinis em competição (uniforme da competição). Evoluímos?

Somente em 1920, na Antuérpia /Bélgica, o Brasil foi pela primeira vez aos jogos Olímpicos (delegação masculina).

Em 1924, em Paris/França, a americana Sybil Bauer ganha o sagrado ouro nos 100 metros de costas. Dois anos antes, Bauer havia se tornado a primeira mulher da história a quebrar um recorde masculino. Hoje, temos atletas transsexuais, competindo entre mulheres. Seria um doping hormonal?

Em 1926, em Dover/Inglaterra – Gertrude Ederle, a primeira mulher a cruzar o Canal da Mancha a nado.

Em 1948, em Londres/Inglaterra (período pós-guerra), Alice Marie Coachman foi a primeira mulher afro-americana a ganhar uma medalha de ouro olímpica, no atletismo pelos Estados Unidos.

Em 1964, em Tokyo/Japão, a atleta Aida dos Santos é a 1ª brasileira que disputou uma final olímpica no atletismo.

Em 1967, em Boston/EUA, Kathrine Switzer foi a primeira mulher a correr a Maratona de Boston (mesmo após tentar ser impedida pelos organizadores).

Em 1984, em Los Angeles/EUA, a atleta marroquina Nawal El Moutawakel é a primeira mulher muçulmana e a primeira nascida na África a se tornar campeã olímpica, vencendo os 400m com barreiras. Pioneira por atletas muçulmanas e árabes.
Em 1988, em Seul/Coréia, a alemã oriental Kristin Otto é a primeira mulher a ganhar seis medalhas de ouro olímpicas e, também estabeleceu quatro novos recordes mundiais.

Em 1992, em Barcelona/Espanha – cerca de um século do início das Olimpíadas modernas – ainda 35 das 169 nações participantes os Jogos não haviam enviado mulheres para competir. As nações muçulmanas no Oriente Médio permaneciam particularmente relutantes em incluir mulheres apesar dos apelos dos líderes do movimento olímpico.

Em1996, em Atlanta/EUA o Brasil fez história com as brasileiras Jaqueline Silva e Sandra Pires conquistaram o primeiro ouro Olímpico feminino e o 2º lugar também para brasileiras (prata) para o histórico time de basquete feminino e o 3º lugar (bronze) para o time de vôlei.

Em 1996, Lida Fariman é a primeira mulher do Irã a competir nos Jogos Olímpicos, desde a revolução islâmica de 1979.

Em 2004, em Atenas/Grécia, a afegã Robina Jalali, também conhecida como Robina Muqimyar, atrai atenção internacional ao competir no atletismo usando o hijab, a vestimenta tradicional muçulmana que cobre as cabeças das mulheres.

Em 2008, em Pequim/China – O Brasil conquista sua 1ª medalha de ouro, na prova individual, a atleta Maurren Maggi ganha no salto em distância. Ouro também no vôlei e prata no futebol feminino. Medalhas de Bronze no Taekwondo, no Judô e na vela. Mulheres responsáveis pelas 2, das 3 medalhas de ouro do Brasil. Emirados Árabes Unidos e Omã enviam mulheres pela primeira vez aos Jogos, após mandar delegações exclusivamente masculinas nas seis olimpíadas anteriores.

Somente 2012 (há menos de 10 anos), em Londres/Inglaterra, primeira vez na história, todos os países participantes possuem mulheres em suas delegações (204 países). Dos 10.500 atletas participantes, 44% são mulheres. Três países muçulmanos – Arábia Saudita, Brunei e Catar – finalmente aceitam atletas do sexo feminino como parte de suas delegações. O Comitê Olímpico Internacional (COI), responsável pela organização dos jogos, ameaçou suspender os países que não cumprirem com suas exigências de igualdade de gênero nas competições.

Em 2021 somos a maior delegação de mulheres na história dos jogos, com cerca de 49% dos atletas, por movimentos de estímulo do Comitê Olímpico Internacional. Também são os jogos que serão reconhecidos pela igualdade e pela diversidade. A cobertura dos esportes femininos ganha reforço nesta edição, com campanhas de empresas privadas para estimular a promoção de notícias do desporto feminino “Skate não é só para meninos”Tabela de evolução das mulheres no esporte - em percentual . Segundo dados da Unesco apenas 4% das notícias esportivas no mundo são sobre mulheres. Além das campanhas, há o movimento “#JogueComElas” como uma forma de divulgação nas redes sociais para inspiração de novas atletas.

Agora em Tóquio, no Japão, já estamos lisonjeados em ver a maranhense “fada”: Rayssa Leal, atleta com apenas 13 anos e mais jovem brasileira a conquistar o pódio olímpico, ganhando medalha de prata, na estreia do skate nos jogos. Uma inspiração para jovens, num cenário com tantos falsos ídolos. Rayssa, além das pistas, deixou sua marca valorizando o incentivo de seus pais e a importância das mulheres no esporte.

Como no esporte, nós mulheres temos muito a perseguir e conquistar. Ouro para nós, que já somos 51% dos eleitores no Brasil e mais da metade da população brasileira. Vamos à luta!

Luluzinha
Dra. Lu
Dra. LuluzinhaLML Advogados.

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Luciana Lima

• Licenciada em Direito pela Universidade Mackenzie. MBA em gestão empresarial pela FGV. Extensão Universitária em Direito Concorrencial, Regulatório e Consumidor pela Universidade de Coimbra. Especialista pela FIA em Empreendedorismo e Terceiro Setor. • Pós-graduada pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Advogada com experiência de mais de 20 anos no setor público e privado. Experiências com direito empresarial generalista, direito público, comercial, regulatório, compliance, administrativo, contratos, licitação, marcas e patentes, due diligence em regulatório. • Atuação no Governo Federal, na Secretaria de Radiodifusão do Ministério das Comunicações e no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações; • Habilitada para advogar na UE. Ouvidora certificada e premiada por 4 anos, entre as melhores Ouvidorias do país. Mediadora pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Ex-Vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

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