Política e Economia

Bolsonaro: Mensagens Desvendam Estratégia para Base Aliada e Contatos Internacionais

Mensagens inéditas extraídas do celular do ex-presidente Jair Bolsonaro, apreendido pela Polícia Federal em maio de 2023, revelam como ele buscava manter sua base aliada unida, especialmente o setor agrícola. Uma semana antes da operação que investigou fraudes em cartões de vacinação, mais de 7 mil arquivos de conversas entre Bolsonaro e seus interlocutores foram obtidos pelo Estadão e servem como base para uma reportagem publicada na segunda-feira (28).

As mensagens mostram a irritação de Bolsonaro com a alcunha de “extrema direita” atribuída a ele pela esquerda brasileira, além de um relato sobre uma viagem a Israel, bancada pelo governo do país. A Polícia Federal afirmou à Gazeta do Povo que não fornece acesso a documentos dessa natureza, enquanto a defesa de Bolsonaro optou por não se pronunciar sobre o assunto.

Segundo a investigação, o conteúdo apreendido no aparelho inclui áudios, documentos, vídeos e conversas de WhatsApp. É importante ressaltar que este celular não é o mesmo apreendido em outra operação, realizada no dia 18, em que Bolsonaro é investigado por uma suposta articulação com seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para que os Estados Unidos impusessem sanções ao Brasil, incluindo um aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros.

Entre as diversas mensagens que demonstram os esforços de Bolsonaro para manter sua relevância na política brasileira após deixar o governo, uma série delas revela sua forte irritação com a etiqueta de “extrema direita” imposta por políticos da esquerda e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, enviava ao ex-presidente relatórios e notícias sobre ele constantemente. Em um deles, foi divulgado que Bolsonaro seria recebido por um partido de “extrema direita” de Portugal, o que acabou não acontecendo.

“Ô Fábio, você sabe que… Os caras vão manter isso o tempo todo, né, que é só extrema direita. Falou comigo é extrema direita. O Trump também deve ser extrema direita. Tá ok, mas a gente vai vencer isso aí, vai vencer a extrema esquerda, pode deixar”, afirmou Bolsonaro na mensagem.

Bolsonaro também demonstrou indignação ao comentar notícias relacionadas às investigações sobre as joias sauditas, em que o Ministério Público Federal apontava suspeitas de peculato. “Indícios pra me incriminar com peculato? É uma piada realmente”, desabafou.

À época, a apuração se concentrava em tentativas de retirada de joias do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, mas posteriormente vieram à tona tentativas de venda de outros itens nos Estados Unidos por aliados do ex-presidente.

Outro ponto central da atuação de Bolsonaro após deixar a presidência foi manter sua influência entre os empresários do agronegócio, aliados importantes durante seu governo. Em listas de transmissão do WhatsApp, o ex-presidente compartilhava notícias sobre demarcações de terras indígenas e ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sob o governo Lula.

“Cada vez mais problemas para o agro. […] Com Bolsonaro: ZERO demarcações”, afirmou em uma das mensagens.

A preocupação em manter a relação com o agronegócio também aparece em diálogos com o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice em sua chapa. Os dois trocaram mensagens sobre dados para serem usados durante uma visita à Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), no final de abril de 2023. O convite a Bolsonaro para participar da feira causou desconforto no governo federal, e o próprio presidente Lula cancelou a presença após saber da ida do antecessor.

Em abril de 2023, o ex-embaixador Yossi Shelley convidou o ex-presidente para viajar a Israel com todas as despesas pagas pelo governo do país. “Vou cuidar de você 14 semanas em Israel, vou pagar o custo de sua presença, hotel e tal por 3 pessoas se vc quiser”, escreveu Shelley, corrigindo logo em seguida para “14 dias”. Bolsonaro agradeceu, disse que conversaria com a esposa, Michelle, e repassou o convite a ela, sem retorno registrado. Durante seu mandato, Bolsonaro chegou a anunciar que transferiria a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, gesto simbólico de apoio a Israel que não foi concretizado diante das pressões internacionais. A relação próxima com o governo de Benjamin Netanyahu, no entanto, permaneceu ativa.

Há também registros de conversas de Bolsonaro com aliados na Câmara dos Deputados para assinarem um requerimento para abrir uma CPI contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, por conta de brigas de correligionários em diretórios estaduais do partido.

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