EditorialOpiniãoPolítica e Economia

Os EUA abandonaram o Brasil?

por Luiz Philippe de Orleans e Bragança

O aparente “abandono” da direita brasileira por parte da administração Trump não advém de ineficácia da ala conservadora no Brasil ou de astúcia da esquerda, mas sim de uma profunda e pragmática reorientação estratégica da política externa e de segurança nacional dos Estados Unidos.

A causa primordial dessa alteração está nas exigências da política interna americana, notadamente das próximas eleições, em que o governo Trump enfrentará o desafio de sustentar sua popularidade em face de promessas de campanha não cumpridas integralmente — como a plena construção do muro, o combate mais rigoroso à imigração e o desmantelamento do Deep State —, além de questões éticas relativas aos negócios de sua família.

A principal chave de leitura para essa mudança é a adoção de uma nova Doutrina de Segurança Nacional. Esta doutrina rompe com o paradigma pós-Segunda Guerra Mundial de “policial do mundo” e do confronto ideológico aberto contra o comunismo, passando a adotar a filosofia “EUA em primeiro lugar” com um foco estrito nos interesses nacionais.

Os pilares desta nova política são:

  • Pragmatismo Transacional: Priorização de acordos e grandes operações bilaterais que atendam aos interesses americanos, mesmo com países politicamente adversos. A ideologia é preterida em favor da transação.
  • Prioridade no Hemisfério Ocidental: O foco estratégico é deslocado da Europa, vista em decadência e potencial antagonismo (devido à imigração), para a América Latina. Essa nova Doutrina Monroe visa combater a imigração ilegal, o narcotráfico e, principalmente, negar o acesso da Rússia e da China a ativos estratégicos, como terras raras, reafirmando o controle hegemônico regional.
  • Reajuste Militar: Redução da presença militar em teatros tradicionais (Europa, Ásia, Oriente Médio) para concentrar o poderio nas Américas.

Neste novo contexto, a política interna brasileira deixa de ser uma preocupação primária para os EUA, exceto se o Brasil se alinhar com nações consideradas inimigas: “a cor do gato não importa, desde que ele cace o rato”. Possível acordo pragmático entre o atual governo brasileiro e os EUA? Tal pacto envolveria o alinhamento com a política de defesa americana e o provável acesso a ativos estratégicos brasileiros. Essa postura oportunista poderia, inadvertidamente, proteger figuras políticas brasileiras de antagonismos com Washington.

A inércia dos EUA como limite diplomático à alegada “ditadura do judiciário” e a percepção de conspiração institucional contra o povo brasileiro podem ser de grande prejuízo para o Brasil. A lição a ser aprendida, contudo, é a mais dura verdade: os Estados Unidos não têm amigos, apenas interesses, e o Brasil também, e essa é a nossa  motivação para adotar uma agenda real de soberania nacional.

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