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WhatsApp, Facebook e Instagram: pane expõe dependência mundial das redes de Zuckerberg

Por horas, potencialmente bilhões de pessoas se viram sem as ferramentas de rede social das quais dependem para manter contato com amigos e familiares

Os efeitos dessa pane global, que no Brasil começou na hora do almoço, foram vários, e mostraram como essa empresa gigante virou parte fundamental na vida de milhares de empresas e bilhões de pessoas.

Em um relatório de julho, o Facebook divulgou que mais de 2,7 bilhões de pessoas usam alguma das redes sociais da empresa diariamente, em todo o mundo. É um número que ajuda a entender a dimensão da pane que afetou o Facebook, o Facebook Messenger, o Instagram e o WhatsApp nesta segunda-feira (04/10) em diversos países.

Após cerca de seis horas de falhas, as redes sociais pertencentes a Mark Zuckerberg já estavam voltando ao normal no Brasil durante a noite.

O Facebook pediu desculpas através do Twitter: “À enorme comunidade de pessoas e negócios ao redor do mundo que dependem de nós: pedimos desculpas. Temos trabalhado duro para restabelecer o acesso aos nossos aplicativos e serviços, e estamos felizes em comunicar que eles estão voltando agora.”

Em nota, o Facebook disse que a causa principal da interrupção do funcionamento foi uma “alteração de configuração incorreta” e afirmou não ter “evidências de que os dados do usuário tenham sido comprometidos como resultado desse tempo de inatividade”.

“Nossas equipes de engenharia detectaram que as alterações de configuração nos roteadores de backbone que coordenam o tráfego de rede entre nossos data centers causaram problemas que interromperam essa comunicação. Essa interrupção no tráfego de rede teve um efeito cascata na maneira como nossos data centers se comunicam, interrompendo nossos serviços”, disse a empresa.

A última vez que o Facebook teve uma interrupção dessa magnitude foi em 2019.

 

Muito além da impossibilidade de trocar mensagens com pessoas queridas ou curtir fotos e vídeos nas redes sociais, a pane desta segunda-feira mostrou que as plataformas do Facebook têm um papel mais profundo no próprio funcionamento da internet, segundo Thoran Rodrigues, engenheiro de computação, mestre em informática e diretor da BigDataCorp, empresa especializada na gestão de dados digitais.

“A rede como um todo acaba sendo impactada, o que faz a gente perceber como essas empresas estão espalhadas (neste sistema)”, explica.

 

“Primeiro, o Facebook tem uma série de serviços que outras empresas, sites e aplicativos usam: desde serviços de login, que permitem o acesso com uma conta do Facebook ou o envio de códigos de confirmação por WhatsApp; e também ferramentas de analytics (métricas sobre a audiência). Quando você tem um problema generalizado como o desta segunda-feira, esses serviços também param de funcionar.”

Além dos serviços de login e ferramentas analíticas, o Facebook tem investido também no ramo de vendas online, como com a plataforma Marketplace; e de pagamentos, inaugurando no Brasil sua ferramenta WhatsApp Pay, que permite transações dentro do aplicativo. Há cerca de uma década, a empresa já tem um mercado consolidado na publicidade — frentes que mostram a ramificação da companhia na internet.

“Segundo, com a falha no Facebook, as pessoas vão buscar massivamente alternativas, então você começa a ver picos de utilização em outros serviços”, aponta Rodrigues como mais um impacto da pane para toda a rede.

 

O Downdetector, que monitora a instabilidade e interrupção de outros sites, registrou nesta segunda-feira um marco de 14 milhões relatos de erro, um dos maiores de sua história. Além do Facebook, Facebook Messenger, Instagram e WhatsApp, plataformas de outras empresas também registraram problemas, em menor escala — como o TikTok e o Twitter, que publicou em sua conta: “Às vezes, tem mais gente usando o Twitter do q o normal. Nos preparamos p/ esses momentos, mas hoje as coisas não ocorreram exatamente conforme o previsto p/ situações assim. Por isso, vcs podem ter tido problemas p/ visualizar respostas ou DMs. Já está resolvido! Nos desculpem.”

Ação nos EUA por ‘monopólio ilegal’

 

Lado-a-lado com a diversificação dos negócios, é evidente que a função original de rede social ainda é extremamente relevante para o Facebook e suas marcas.

Segundo dados da empresa de métricas App Annie, os quatro aplicativos mais baixados na última década — de 2010 a 2019 — eram do Facebook: Facebook (1º lugar), Facebook Messenger (2º), WhatsApp (3º) e Instagram (4º).

 

Em 2020, o quadro mudou com a aparição do TikTok em primeiro lugar naquele ano, mas mesmo assim as quatro redes sociais do Facebook aparecem entre as seis primeiras posições.

Para a Federal Trade Commission dos Estados Unidos (Comissão Federal de Comércio, FTC na sigla em inglês), ao longo dos anos o Facebook construiu um monopólio no ramo das redes sociais através de condutas “anticompetitivas”. Por isso, a FTC e procuradores de 45 Estados americanos abriram em dezembro de 2020 uma ação judicial contra o Facebook, ainda em curso, que pede o desmembramento da companhia, entre outras medidas.

Para os autores da ação, o Facebook cresceu no mercado com uma estratégia de “comprar ou matar” os rivais, prejudicando competidores e usuários — que, no caminho, teriam perdido controle de seus dados em prol da receita da empresa com publicidade.

 

A empresa defendeu em uma nota que a ação judicial “ignora a realidade da dinâmica e intensamente competitiva indústria da alta tecnologia na qual o Facebook opera”.

O Facebook comprou o Instagram por US$ 1 bilhão em 2012 e o WhatsApp por US$ 19 bilhões em 2014 — aquisições que, segundo o FTC, foram feitas com o objetivo de “eliminar ameaças ao monopólio” da empresa.

Outras gigantes da tecnologia, como o Google, a Amazon e a Apple, também estão enfrentando cobranças parecidas ao redor do mundo, não só na Justiça mas também no Legislativo e em outros órgãos.

Comissão Europeia, por exemplo, está investigando se a Apple e o Facebook violaram regras antitruste da União Europeia.

Diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), Carlos Affonso Souza explica que estes debates têm a ver com uma fase da era digital.

“A gente vive um momento na internet da plataformização, em que as grandes inovações acabam sendo adquiridas por grandes empresas. Dito de outra forma, o sonho de uma start-up de sucesso hoje virou ser adquirida por uma grande empresa — quando, no final das contas, poderia ser que ela se tornasse uma grande empresa do futuro”, afirma Souza, também professor de direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

 

Embora os impactos destes conglomerados digitais para os internautas ainda estejam em discussão, Souza diz que esta segunda-feira pode ficar como ensinamento para aqueles que navegam na internet — ou nas redes sociais?

“O brasileiro se acostumou a ver o Facebook, o WhatsApp e o Instagram como se fosse uma espécie de ‘cesta básica’ do acesso à internet”, afirma Souza, apontando que a experiência dos internautas hoje está muito restrita às redes sociais.

“Acabamos usando esses três aplicativos de uma mesma empresa e de uma forma que a integração entre eles oferece muito conforto. Quando esses três aplicativos saem do ar, subitamente muitas pessoas não sabiam o que fazer. Esse é um ponto muito preocupante — diz muito sobre a empresa Facebook, mas também sobre a maneira pela qual nós nos acostumamos a confundir rede social com internet”.

“No final das contas, a gente teve um dia em que a mensagem para todo mundo que usa internet foi: você precisa ter um plano B. Você não pode depender de aplicações que são administradas pela mesma empresa”, recomenda o diretor do ITS.

Fonte
BBC Brasil
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Samuel Nascimento

Natural de Paraguaçu Paulista, terra de Erasmo Dias, Liana Duval e Nho Pai. Graduado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e cursando Engenharia da Computação; Empreendedor na área de Marketing Digital; Ciclista; Músico Violinista; Organizador do Festival de Música de Paraguaçu Paulista e Spalla da Orquestra Jovem de Paraguaçu Paulista.

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