Pandemia aumenta a fome no Brasil
A falta de comida, agravada pela pandemia da covid-19, compromete milhões de brasileiros.

A fome, que crescia no Brasil na última década, acabou se agravando na pandemia. Em 2020, 19 milhões de pessoas viviam em situação de fome no país, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil. Em 2018, eram 10,3 milhões. Ou seja, em dois anos houve um aumento de 27,6% (ou quase 9 milhões de pessoas a mais).
A piora na alimentação de muitos brasileiros na pandemia tem impacto direto, segundo estudos e especialistas, na capacidade do corpo de combater invasores como o Sars-CoV-2 e outras doenças. E por muito tempo.
Uma dieta equilibrada é fundamental para o sistema imunológico do corpo humano, embora ela por si só não seja capaz de prevenir doenças infecciosas como a covid-19. O que comemos afeta diretamente seu funcionamento e, por isso, como nos sentimos.
Um estudo feito em duas favelas de São Paulo no início da quarentena investigou a insegurança alimentar(falta de acesso das pessoas aos alimentos) entre março e junho de 2020 a partir de 909 chefes de família. A conclusão dos pesquisadores foi a de que a falta de acesso regular a alimentos suficientes e nutritivos por essas famílias colocam-nas em maior risco de desnutrição, fome oculta (deficiência de micronutrientes), obesidade e doenças crônicas relacionadas à alimentação.
Essa situação, entretanto, não começou com a pandemia, mas se agravou com ela. Durante a pandemia, o desemprego e a alta dos preços de alimentos no Brasil, afetam mais as famílias mais pobres. Muitas famílias têm empregos temporários, sem carteira assinada, de renda instável e insuficiente.
A nutricionista Luciana Tomita, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo em São Paulo, disse que o mais chocante foi encontrar quase metade das famílias já nas primeiras semanas da pandemia em situação de escassez de alimentos moderada ou grave. “A redução da renda dessa população foi quase automática”, disse Tomita.
Os fatores associados à fome são baixa renda, baixa escolaridade e morar em casa sem filhos (o que reduz o valor do Bolsa Família ou do auxílio emergencial). O auxílio emergencial deu certo alívio, mas a redução do valor ,a dificuldade de trabalhar devido ao fechamento dos estabelecimentos durante a quarentena, impactou negativamente no acesso a alimentação de boa qualidade.
Em 2020, o índice de insegurança alimentar esteve acima dos 60% no Norte e dos 70% no Nordeste – enquanto o percentual nacional é de 55,2%. Já a insegurança alimentar grave (a fome), que afetou 9,0% da população brasileira como um todo, esteve presente em 18,1% dos lares do Norte e em 13,8% do Nordeste.
